Incêndio em casa noturna de Porto Alegre reacende dúvidas sobre a segurança de boates

Fogo na casa noturna traz dúvidas sobre a eficácia da fiscalização feita pelo poder público

Noventa e sete dias depois da tragédia da boate Kiss, que matou 241 pessoas em Santa Maria / RS, um incêndio em uma das mais conhecidas casas noturnas de Porto Alegre voltou a assombrar os gaúchos. Desta vez, sem vítimas.

cabaretDois terços do local foram consumidos pelo fogo. Foto: Felipe Martini / Agência RBS

Mas as chamas que consumiram dois terços do casarão onde funcionava o Cabaret, sábado à noite, propagaram dúvidas sobre a eficácia da fiscalização de segurança dos estabelecimentos, feita pelo poder público.

O caso do Cabaret é emblemático porque a casa, na Avenida Independência, foi a primeira a ser interditada na Capital, em 30 de janeiro — três dias após a tragédia da Kiss. Vinte dias depois, foi liberada pela força-tarefa criada pela prefeitura para inspecionar os estabelecimentos, com aval do Corpo de Bombeiros, após reformas para adequações.

Mas, se estava tudo em dia, por que a casa pegou fogo? As causas ainda são investigadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), que deve chegar a uma conclusão em até 30 dias. Por enquanto, o pouco que se sabe é que as chamas começaram entre o telhado e o forro, por volta das 20h30min, quando a casa ainda estava vazia. Segundo um dos peritos do caso, Rodrigo Ebert, é a região onde normalmente fica a instalação elétrica, mas qualquer conclusão é precipitada. Até porque, de acordo com um dos donos, Carlos Beust de Oliveira, a partir das reformas não haveria nenhuma fiação passando pelo teto. A polícia também investiga a hipótese de incêndio criminoso.

— Todas as licenças estavam em dia, não tem explicação para esta situação — diz o advogado e contador do Cabaret, Ciro Pacheco, estimando um prejuízo de R$ 500 mil.

Apesar de confirmarem que toda a parte de prevenção a incêndios estava regularizada, autoridades tiveram dificuldade de dar detalhes no domingo sobre a liberação do alvará de funcionamento. Mesmo sendo coordenador da força-tarefa criada pela prefeitura para inspecionar as casas noturnas, o secretário de Produção, Indústria e Comércio, Humberto Goulart, disse que a responsabilidade era dos bombeiros e que haveria pendências administrativas com a Secretaria de Urbanismo — mas não soube informar quais.

cabaret2No ano passado, a boate Cabaret fechou durante 20 dias por determinação da prefeitura de Porto Alegre
Foto: Ronaldo Bernardi  / Agência RBS

O comandante dos bombeiros de Porto Alegre, tenente-coronel Adriano Krukoski Ferreira, garantiu que o Cabaret cumpre todas as exigências legais e que o alvará serve apenas como uma garantia de que, se houvesse alguém dentro do prédio, as pessoas teriam condições de sair em segurança. E se a casa estivesse lotada?

— Não temos bola de cristal para saber como seria se tivesse gente no momento — respondeu Krukoski.

Um dos centros da cultura alternativa em Porto Alegre, o Cabaret sediaria no sábado uma festa de música eletrônica. Frequentadora do local, a estudante de Medicina Tatiana Klaus, 23 anos, lembra que os cuidados com segurança haviam sido redobrados após a interdição, com saídas sinalizadas e menor lotação, o que havia multiplicado as filas de entrada.

Mesmo com dúvidas quanto à origem do incêndio, o responsável pela força-tarefa da prefeitura, Humberto Goulart, não pretende mudar os procedimentos de fiscalização.

Fonte: ClicRBS – ZH

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